Eis que o retorno é manso.
E a mansidão ajudou a soltar a voz
Entalada no peito:
Um dia eu viro só vento,
Nuvem clarinha algodoeira
Salpicada de entretantos.
São tantos os versos que choveriam...
Aqueles versos mais sutis
rabiscados no espaço
rendilhando o céu.
Mansos versos para dizer
Que a eternidade é imensa
E parece ser tão cruel.
Sílvia Câmara
E a mansidão ajudou a soltar a voz
Entalada no peito:
Um dia eu viro só vento,
Nuvem clarinha algodoeira
Salpicada de entretantos.
São tantos os versos que choveriam...
Aqueles versos mais sutis
rabiscados no espaço
rendilhando o céu.
Mansos versos para dizer
Que a eternidade é imensa
E parece ser tão cruel.
Sílvia Câmara
(Após saber que o poeta Alberto da Cunha Melo havia encerrado sua jornada nesta vida na noite de 13/10/2007)
10 comentários:
Sílvia,
o tempo não é justo com os poetas, leva-os prematuramente, ficamos mais desertos.
Que bela a sua homenagem ao seu conterrâneo Alberto da Cunha Melo.Belo o território do seu blog, é um pouco como estar em casa.
Obrigada pela visita ao meu blog, volte sempre.
Choveriam muitos versos...
Silvinha, você é nuvem algodoeira e vai salpicar versos pelo espaço e seus versos como nossos versos encontrarão o poeta e ele sorrirá quando ver que não só rabiscou versos mas salpicou algumas dezenas de poetas e assim choverá muitos poetas.
Bom, mas muito bom ter você aqui outra vez!
Beijo carinhoso
Silvinha,
Lindo teu retorno e a maneira que falaste do outro retorno, o do Poeta!
Estava com saudades dos teus versos!
Beijos!
O tempo, essa coisa incutida em cada mínimo pedaço de existência que possamos vislumbrar, esquece, distraído, de ensinarnos as notas de seu concerto. E nós, por tantas vezes, não podemos conter a dor desafinada das bandas do coração.
Lindo é entornar essa dor desafinada nas cordas melodiosas d'um poema. Lindo.
E obrigada pelos recados carinhosos, Sílvia.
Abração,
Raiça.
O tempo, essa coisa incutida em cada mínimo pedaço de existência que possamos vislumbrar, esquece, distraído, de ensinarnos as notas de seu concerto. E nós, por tantas vezes, não podemos conter a dor desafinada das bandas do coração.
Lindo é entornar essa dor desafinada nas cordas melodiosas d'um poema. Lindo.
E obrigada pelos recados carinhosos, Sílvia.
Abração,
Raiça.
O seu "Ofício" é lindo e forte, palavra virando cultura e descortinando lugar e vida.
Lembra-me Adélia Prado quando diz sobre o escrever, e não resisto a incluir aqui o poema:
EX-VOTO
Na tarde clara de um domingo quente
surpreendi-me,
intestinos urgentes, ânsia de vômito, choro,
desejo de raspar a cabeça e me pôr nua
no centro de minha vida e uivar
até me secarem os ossos:
que queres que eu faça, Deus?
Quando parei de chorar
o homem que me aguardava disse-me:
"você é muito sensível, por isso tem falta de ar".
Chorei de novo porque era verdade
e era também mentira,
sendo só meio consolo.
Respira fundo, insistiu, joga água fria no rosto,
vamos dar uma volta, é psicológico.
Que ex-voto levo à Aparecida,
se não tenho doença e só lhe peço a cura?
Minha amiga devota se tornou budista,
torço para que se desiluda
e volte a rezar comigo as orações católicas.
Eu nunca ia ser budista,
por medo de não sofrer, por medo de ficar zen.
Existe santo alegre ou são os biógrafos
que os põem assim felizes como bobos?
Minas tem coisas terríveis,
a Serra da Piedade me transtorna.
Em meio a tanta rocha
de tão imediata beleza,
edificações geridas pelo inferno,
pelo descriador do mundo.
O menino não consegue mais,
vai morrer, sem força para sugar
a corda de carne preta do que seria um seio,
agora às moscas.
Meu coração é bom
mas não aceita que o seja.
O homem me presenteia,
por que tanto recebo,
quando seria justo mandarem-me à solitária?
Palavras não, eu disse, só aceito chorar.
Por que então limpei os olhos
quando avistei roseiras
e mais o que não queria,
de jeito nenhum àquela hora,
o poema,
meu ex-voto,
não a forma do que é doente,
mas do que é são em mim
e rejeito e rejeito,
premida pela mesma força
do que trabalha contra a beleza das rochas?
Me imploram amor Deus e o mundo,
sou pois mais rica que os dois,
só eu posso dizer à pedra:
és bela até à aflição;
o mesmo que dizer a Ele:
sois belo, belo, sois belo!
Quase entendo a razão de minha falta de ar.
Ao escolher palavras com que narrar minha
angústia,
eu já respiro melhor.
A uns Deus os quer doentes,
a outros quer escrevendo.
quis dizer palavra virando escultura
Bela homenagem a Alberto, Silvinha.
Se é verdade que há outra vida, ele deve estar sorrindo, quem sabe dizendo obrigado?
Beijo,
Conceição
Gosto do seu jeito manso de dizer sobre a vida rendilhada de entretantos.
"Mansos versos para dizer
Que a eternidade é imensa
E parece ser tão cruel."
A sua escrita tem sabor e cheiro...hum!
Adorei!
Bom feriado!
Beijos, Macabeus*
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