terça-feira, novembro 21, 2006

A mentira, o desejo e o sonho


Havia um ângulo de tensão em seu olhar
e nós estávamos embaixo do viaduto
respirando os primeiro raios do sol.

Foto by Sue Anna Joe

O velho caudilho havia morrido ontem
e, no entanto, estava mais vivo
do que nunca.

Um mendigo dormia
imune à eletricidade da manhã
e eu busca uma razão
para quebrar a inércia.
Você arrotava cuba-libre,
eu tinha medo da solidão,

metia as mãos nos bolsos
e coçava os testículos.
O dia nascia impune
na praia do Pina
iluminando as nossas
caras cansadas
e eu sentia pena
das putas do Bar da Central.
O meu coração era um fio de nylon
e a cidade bocejava preguiçosa.
O professor havia ido embora
sem conseguir nos iludir
com a sua falsa alegria tropicalista,
péssimo ator que era.
Emmanuel estava conosco
e o diabo também.
Éramos os bobos da corte
e não queríamos ser degolados.
Éramos a personificação
da mentira, do desejo e do sonho.

Clóvis Campêlo
Recife, 1985

Um comentário:

Poeta Carlos Maia disse...

MUITO BOM, CLÓVIS, PARABÉNS!!!!

ESTAMOS TODOS EM BUSCA DA VERDADE, DO BELO E DO PRAZER...

VOCÊ SOUBE TRADUZIR BEM ESSA BUSCA!!!

GRANDE ABRAÇO!!!